Reajustes no ICMS e preço internacional aumentam custo dos combustíveis; impacto deve ser sentido no preço dos alimentos

A partir de hoje, a gasolina, o etanol e o diesel estão mais caros em todo o país, devido ao reajuste no ICMS e às pressões no mercado de combustíveis. O aumento promete pesar no bolso dos consumidores e trazer dificuldades para o governo federal, em especial no controle da inflação, que tem impactado o custo dos alimentos e a aprovação popular.
Os aumentos foram desencadeados principalmente pelo reajuste no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). O imposto estadual sobre a gasolina e o etanol subiu, em média, R$ 0,10 por litro, elevando o valor final para R$ 1,47 por litro.
A decisão do reajuste não partiu do governo federal, mas do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne representantes das secretarias estaduais de Fazenda. No diesel, o impacto é ainda maior: o combustível sofreu dois reajustes simultâneos. As distribuidoras pagarão R$ 0,22 a mais por litro, além de um aumento de R$ 0,06 no ICMS, elevando o custo do diesel para R$ 3,72 por litro.
O cenário reflete uma tentativa de corrigir a defasagem no preço do diesel no Brasil, que, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), chega a 15% quando comparado ao mercado internacional.
Pressões sobre a Petrobras
Embora a Petrobras tenha mantido os preços estáveis ao longo de 2024, a estatal enfrentava pressão dos investidores para elevar os valores. “A ex-presidente Dilma [Rousseff] tentou segurar a inflação evitando reajustes nos combustíveis e quase quebrou a Petrobras”, relembra José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo). Durante o governo Dilma, a petroleira registrou perdas estimadas em R$ 100 bilhões devido à contenção de preços.
Em 2023, a Petrobras abandonou a política de paridade internacional, que vinculava o preço dos combustíveis ao mercado externo, mas isso não foi suficiente para evitar os reajustes atuais, causados principalmente pelo ICMS e pela defasagem no preço do diesel.
Impacto na inflação e nos preços dos alimentos
O aumento dos combustíveis terá repercussão direta e indireta sobre a inflação. O economista Alexandre Espirito Santo, da Way Investimentos e coordenador da ESPM, alerta para os efeitos no transporte de cargas, especialmente no agronegócio. “O diesel é fundamental no frete, que afeta toda a cadeia de alimentos e produtos importantes”, explica. Como grande parte dos produtos no Brasil é transportada por rodovias, o custo do transporte será repassado aos preços finais.
O presidente da FETCESP (Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de São Paulo), Carlos Panzan, destaca que o diesel representa cerca de 35% dos custos operacionais no transporte de cargas. “Esse aumento não será imediato, mas em até quatro meses o frete deve refletir o reajuste devido às renegociações contratuais”, explica.
Para Alexandre Espirito Santo, o setor alimentício é o mais preocupante. “Os alimentos têm peso elevado nos índices de inflação, e qualquer impacto no transporte reflete rapidamente nas prateleiras dos supermercados.”
Efeitos sobre o IPCA e a política econômica
O aumento da gasolina também terá impacto direto no IPCA, o principal índice de preços do Brasil. “A cada 1% de aumento da gasolina, o IPCA sobe 0,5%”, afirma a advogada especializada em Direito Tributário Renata Silveira Bilhim. O Banco Central, por sua vez, deverá manter a política de juros altos para tentar conter a alta inflacionária.
O professor Alexandre Espirito Santo prevê que o Brasil deve ultrapassar o teto da meta de inflação, que é de 4,5% ao ano. “Minha projeção é de um IPCA em torno de 5,4% em 2025”, alerta.
Consequências políticas e queda na aprovação do governo Lula
A alta nos preços dos alimentos e combustíveis tem repercussões também na avaliação popular do governo Lula. Segundo Guilherme Russo, diretor de Inteligência da Quaest, o aumento do custo de vida é uma das principais razões para a reprovação do governo, atualmente em 37%. Em 2024, a inflação dos alimentos foi de 8,23%, bem acima da inflação geral, que ficou em 4,83%.
O governo enfrenta o desafio de equilibrar o controle inflacionário sem sufocar o crescimento econômico. Com a pressão sobre os preços dos alimentos e a manutenção dos juros altos, a popularidade de Lula pode sofrer ainda mais abalos nos próximos meses.
Os reajustes nos combustíveis chegam em um momento delicado para a economia brasileira, trazendo desafios tanto no campo econômico quanto político. O impacto imediato será sentido no preço dos alimentos e no IPCA, o que poderá exigir medidas adicionais do governo para evitar que a inflação continue em trajetória ascendente. Enquanto isso, motoristas e consumidores aguardam com preocupação os próximos capítulos dessa crise.
Com informações de: SEMANA ON